E aconteceu que,
indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te ei para onde quer que
fores. E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o
Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.
E disse a outro:
Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá enterrar meu pai.
Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu
vais e anuncia o reino de Deus.
Disse também outro: Senhor, eu te seguirei,
mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa. E Jesus lhe disse:
Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus. Lucas
9:57-62
Quando ouvimos o evangelho o nosso coração se
alegra e intenciona seguir Jesus onde quer que Ele nos guie. Segui-lo é, sem
dúvidas nenhuma, a melhor decisão. No entanto precisamos nos atentar para
questões importantes que influenciarão a nossa decisão, podendo nos fazer
vacilar ou mesmo voltar para trás.
O evangelho de Lucas nos traz três exemplos de
pessoas que quiseram seguir Jesus ou mesmo foram convidadas por Ele para
segui-lo, porém que hesitaram.
I
O primeiro, descrito nos versículos 57 e 58 de
Lucas 9, se ofereceu para seguir Jesus, no entanto, a admoestação de Jesus nos
revela o que havia no coração dessa pessoa, pois muitos desejavam, como ainda hoje,
seguir Jesus porque Ele cura enfermidades, ressuscita mortos, alimenta
famintos; sendo então uma intenção com interesses próprios.
Jesus esclareceu que o seguir não significa
viver um conto de fadas com final feliz. É importante termos consciência que aqui
na vida terrena poderemos sofrer situações constrangedoras ao afirmarmos nossa
fé em Jesus.
O apóstolo Paulo afirmou que o que nos espera
no porvir não se deve comparar com o que vivemos; e nos alerta para não
fixarmos nossos olhos apenas no que eles podem ver:
Porque para mim tenho por certo que as
aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há
de ser revelada. Romanos 8:18
Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os
mais miseráveis de todos os homens. 1 Coríntios 15:19
Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas
coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são
temporais, e as que se não veem são eternas. 2 Coríntios 4:17,18
Portanto, o que afirmou Jesus, é que não é
aqui o nosso descanso, como não o foi de nosso Mestre!
E ainda que ao segui-lo venhamos receber
algumas bençãos, nosso coração não pode estar focando nessas oportunidades
temporais, e sim na principal benção que é estar de volta aos braços do Pai!
II
Nos versículos 59 e 60 vemos a outra pessoa
que recebeu o convite de Jesus para segui-lo. Porém, este pediu para antes ir
sepultar ao seu pai.
Esse episódio refere-se a uma cultura que
existia naquele determinado tempo e que havia sido entendida como uma lei para
os judeus, que era a responsabilidade que as pessoas tinham de cuidar de seus
pais até a morte. Portanto essa pessoa que recebeu o convite de Jesus, pediu
para cumprir essa regra (que poderia demorar muitos anos) antes de segui-lo.
A Palavra nos ensina que devemos “honrar"
nossos pais, sendo esse mandamento atrelado a uma promessa:
Honra a teu pai e a tua mãe, como o Senhor teu
Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na
terra que te dá o Senhor teu Deus. Deuteronômio 5:16
Podemos entender que essa pessoa, que disse
que precisava sepultar ao seu pai antes de seguir Jesus, estava ancorando todos
os seus sentimentos e expectativas em uma base cultural, já que honrar seus
pais não significa necessariamente estar ali até sepulta-los, mas tê-los em
consideração onde quer que estivessem, ao mesmo tempo que diante de atitudes
corretas na sua lida diária não difamá-los por má criação.
Portanto, observamos que devida a uma cultura
incutida em sua mente, aquela pessoa estava colocando Jesus em segundo plano.
Por isso Jesus disse: “Deixa aos mortos o
enterrar os seus mortos”, ou seja, devemos tomar cuidado para que ensinos
culturais e interpretações da Palavra de Deus que estão fora do real
significado deixado por Deus, não nos deixe “mortos”, insensíveis, para o
Reino de Deus.
Essa insensibilidade mascarada por obrigações
culturais nos impede de anunciar o Reino de Deus, que foi a ordem expressa por
Jesus aquela pessoa e a todos quanto querem segui-lo.
Mas o que seria “anunciar o Reino de Deus” nos
dias de hoje?
Anunciar e viver o Reino de Deus pode ser um
dos maiores desafios que encontramos no dia a dia. Pois ansiamos por uma
resposta clara e fácil como Nicodemos ao interrogar Jesus (João 3:1-12).
A dificuldade que surge para Nicodemos, e que pode
acontecer conosco, é quando se tenta comparar e entender o Reino de Deus com o
mundo físico. Jesus usou a alegoria do vento, que sentimos em nossa pele e
observamos o seu agir no balançar das folhas das árvores, mas que não sabemos
de onde veio nem para onde vai; ou seja, até mesmo naquilo que acreditamos
conhecer, somos limitados.
Mas ao decidirmos seguir Jesus aceitaremos uma
dimensão real, mas que não pode ser entendida com a razão humana, pois esta é
limitada.
Nicodemos se sentia confuso porque os
testemunhos dos feitos de Jesus comprovavam a existência do Reino de Deus,
enquanto seus superiores afirmavam que Jesus era uma farsa.
Por isso, mais uma vez precisamos nos esforçar
para não fazer parte de um grupo de pessoas que como “mortos espirituais”, não
conseguem vivenciar e anunciar o Reino de Deus.
Já, ao crermos nas palavras de Jesus passamos
a ser como o vento, cheios do Espírito de Deus, anunciamos o Reino de Deus
através do nosso testemunho de fé!
III
A terceira pessoa descrita no Evangelho
de Lucas 9, nos versículos 61 e 62 se oferece para seguir Jesus, porém, logo em
seguida apresenta um contratempo: “Se despedir daqueles que estão em sua casa”.
O que talvez este jovem estivesse ansiado
era uma espécie de validação por parte de seus entes queridos para a sua
decisão de seguir a Jesus. Esta infelizmente é uma armadilha constate na vida
de muitas pessoas que ouvem o evangelho, mas que estão envoltos em uma
sociedade que não se encaixa com os preceitos do Reino, como no caso de pessoas
materialistas, consumistas ou mesmo desatentas ao caos que está o mundo ao seu
redor.
Para outros, “despedir” é esperar que
aquilo que lhe foi ensinado como importante, como casamento, filhos e planos profissionais,
se realizem antes de se dedicarem intensamente ao Reino. Estes acreditam que
para anunciar o Reino é necessária uma exclusividade que os impediriam de alcançarem
os projetos pessoais. Enquanto na realidade o que o Reino requer é ser a baliza
para esses projetos:
Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus 6:33
Fato
é que, se nossa mente vaga preocupada em como os pontos pessoais seguirão em
nossas vidas enquanto tentamos seguir Jesus, estamos coxeando entre dois
pensamentos (1 Reis 18:21). Ou seja, não dando a devida atenção ao
Reino de Deus. Por isso Jesus usou o exemplo da pessoa que usa o arado, que é
uma ferramenta que exige toda atenção de quem a está manuseando.
Para viver o Reino e a sua plenitude,
aqui na vida terrena, precisamos internalizar as palavras do apóstolo Paulo em
sua carta aos Filipenses:
Porque para mim o viver é Cristo, e o
morrer é ganho. Filipenses 1:21
Pois de outra maneira poderemos estar nos
enganando, deixando com que projetos pessoais tomem o lugar de Jesus em nosso
coração e mente.
Muitos de nossos anseios podem e vão se
realizar em nossas vidas, se tornando até mesmo ferramentas úteis para
testemunhar o amor e cuidado de Deus pela humanidade. Porém, estes não podem,
de maneira alguma, estarem como mais importantes em nossos corações, fazendo
com que percamos o foco principal de nossas vidas.
Quando entendermos isso estaremos aptos
para seguir Jesus!
Como Maria, irmã de Lazaro, que demonstrou
sua decisão ao derramar o que ela possuía de mais precioso aos pés do Mestre (João 12:1-11).
Nenhum comentário:
Postar um comentário